quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Luiz Marfuz em entrevista sobre "Atire a primeira pedra"


Juliana Maia – Qual avaliação o senhor faz da Escola de Teatro em relação à formação de atores?

Luiz Marfuz - A Escola é um celeiro de formação de atores, que vem atraindo interessados de toda parte do Brasil. Alie-se a isto o programa de pós-graduação – que atingiu grau de excelência junto ao ministério da Educação – que fomenta a pesquisa artística, a prática teatral e reflexão sobre as artes cênicas.

Maia – Qual a expectativa que esses atores podem ter em relação ao mercado de trabalho baiano?

Marfuz - A escolha da carreira do ator é sempre um desafio, diante de um mercado instável e informal. A profissão do ator foi regulamentada em 1978, mas poucos têm emprego seguro ou carteira assinada. É uma luta. Interpretar, produzir, fazer cenário, figurino, dar aula, sobreviver e ainda preparar diariamente seu corpo e sua voz. É matar um leão por dia.

Maia – Como o senhor recebeu o convite para dirigir esse espetáculo de formatura?

Marfuz - Tenho uma ligação com esta turma, desde quando ela entrou na Universidade, em 2006, quando dirigi a mostra “Teatro à flor da pele”, junto com a Iami Rebouças. Foi um encontro de vontades. Eles queriam que os dirigisse e eu queria dirigi-los.

Maia - Em relação aos 50’Tões, como o senhor caracterizaria o grupo? Heterogêneo, ou os atores estão no mesmo nível?

Marfuz - Um grupo com 19 atores não poderia ser homogêneo em nada. Os atores são diferentes em tudo. Não se trata de uma questão de estar ou não estar no mesmo nível, porque em arte as mudanças, às vezes, são súbitas. O processo criativo dita regras inimagináveis. O grupo é talentoso e tem um potencial enorme.

Maia – Como está a construção do espetáculo “Atire a primeira Pedra"? Como se deu a escolha de atores para os papéis?

Marfuz - Já estamos em pleno processo de ensaios gerais. E escolha dos papéis levou em conta a o perfil das personagens, o tipo físico e a tendência para determinados gêneros: melodrama, tragédia, comédia, farsa etc.

Maia – Por que Nelson Rodrigues?

Marfuz - É um dos maiores dramaturgos brasileiros. Ele escreve para o ator. É como se estivesse vendo o que está li. Nelson consegue aliar sua experiência de jornalista e escritor à de dramaturgo para plantar o mais contundente conjunto de peças da dramaturgia brasileira. Ele conhece a alma do brasileiro como ninguém. Aquilo que nenhum de nós confessaria ao padre ou ao psicanalista, ele põe na boca das personagens, que estão sempre em carne viva. E com uma ironia inconfundível.

Maia – Nelson Rodrigues já foi montado incontáveis vezes. Qual o diferencial desta montagem?

Marfuz - O espetáculo tem música, dança, interpretação. São adaptações teatrais de dez crônicas de Nelson Rodrigues, de “A vida como ela é...”. Ali está um pouco da faceta da classe média brasileira, com seus tipos, obsessões e taras. Mas é um espetáculo que toma o partido do humor, aliando a música brega brasileira com várias convenções teatrais, a exemplo do melodrama.

Maia – Qual a participação da direção na adaptação do texto?

Marfuz - A adaptação é de Cleise Mendes e Fernando Santana, este um jovem de 22 anos, que integra o elenco da montagem. Foi uma generosidade de Cleise dividir esta adaptação com ele. Minha participação se deu mais na escolha dos contos, que privilegiam o olhar feminino, a explosão do desejo das mulheres numa época em que a ordem patriarcal começa a ruir.

Maia – O que o senhor destacaria em relação à montagem “Atire a Primeira Pedra”?

Marfuz - O trabalho do elenco, que canta, dança e interpreta e o humor deliberado que instaura uma tragicomédia à brasileira.

Luiz Marfuz é diretor do espetáculo "Atire a primeira pedra".

Por Juliana Maia
Assessora de Imprensa

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